
Gleice Carolina Prado
Na pandemia, bibliotecas saíram do casulo presencial e alçaram voo no mundo on-line com dose extra de criatividade
No momento em que o mundo virou do avesso, além de tomar todas as precauções para sobrevivência, foi necessário se reinventar. Foi assim com as pessoas e com as instituições. No âmbito educacional, escolas passaram, durante quase dois anos, de uma realidade presencial para uma completamente virtual.
Nas bibliotecas não foi diferente. Em um primeiro momento, elas foram fechadas no mundo inteiro. Para Marília de Paiva, professora da Escola de Ciência da Informação da UFMG e membro do Conselho Diretor da Biblioteca Universitária, o grande diferencial foi que, aquelas que tinham relacionamento mais próximo com os usuários, tentaram se manter conectadas com as necessidades deles.
Assim aconteceu com a Biblioteca Universitária da UFMG (BU). Em março de 2020, o Sistema de Bibliotecas iniciou, no IG @bibliotecaufmg, o compartilhamento de informações científicas sobre o novo coronavírus, para ajudar a combater diversas fake news divulgadas sobre o tema. Além disso, equipes de bibliotecários foram mobilizadas, tanto na criação do protocolo sanitário das bibliotecas, como na análise da melhor forma de disponibilizar livros eletrônicos para os usuários.
“Após detalhado estudo, investimos mais de dois milhões de reais na aquisição de plataformas de e-books que atendem todos os cursos de graduação, além das demandas de livros literários e conteúdo jornalístico do Espaço de Leitura da UFMG”, afirma Kátia Lúcia Pacheco, diretora da BU.
Saiba mais sobre as plataformas de e-books em “Fique por Dentro”, na página 7.
Layla Magalhães, aluna do oitavo período de Biblioteconomia da UFMG, afirma que ler e-books se tornou mais comum durante a pandemia. Ela passou a utilizar a plataforma Minha Biblioteca durante esse período. “Tenho predileção por livros físicos – coisa de bibliotecária talvez –, mas a experiência com e-books foi grata surpresa e hábito que pretendo manter em coexistência com minha minibiblioteca física”, revela.
E as plataformas de e-books fizeram parte do dia a dia não só dos alunos da graduação. Valquiria Ferreira concluiu, recentemente, doutorado no curso de História da Fafich. “Na etapa final da pesquisa, tanto a plataforma Pearson, quanto a Minha biblioteca, foram de suma importância para que eu pudesse terminar minha tese. Não encontrei, apenas, uma ou duas obras. Os demais livros que procurei estavam lá”, destaca.
Para além do conhecimento científico, os e-books, sobretudo literários, trouxeram entretenimento. “Tenho o hábito de ler bastante para meu filho de 5 anos. A plataforma Árvore Livros foi instrumento importante durante esse período desafiador de fechamento das escolas e mudanças para todos nós. Juntos, lemos muitos livros infantis, o que nos ajudou como distração”, contou Mônica Larucci, professora do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Ela e o filho estão entre os maiores leitores da plataforma Árvore livros dentro da Universidade.
Serviços on-line
Além da adquirir livros eletrônicos, a BU adaptou vários serviços, como o treinamento de usuários para cadastro no Sistema de Bibliotecas, que passou a ser realizado virtualmente. Os serviços de nada consta, ficha catalográfica, quitação de débito e multa também passaram a ser feitos totalmente on-line. Informações detalhadas sobre o passo a passo de cada um deles podem ser obtidas no site da Biblioteca Universitária. O site do treinamento para cadastro também pode ser conferido nesse mesmo lugar. Já os treinamentos on-line, sobre as plataformas de e-books e bases de dados do Portal Capes, estão disponíveis no canal do YouTube Suporte à Pesquisa UFMG.
A bibliotecária Fernanda Almeida pontua que esse formato virtual dos treinamentos permitiu maior alcance, além de diminuir os custos com energia elétrica e manutenção das salas equipadas, dos computadores e data-show. Também ampliou as possibilidades de orientação dos usuários, que passou a ser realizada via Google Meet, WhatsApp e Skype Suporte à Pesquisa UFMG.
“Ainda não temos equipamentos adequados – computadores, câmera, microfone e internet –, principalmente para transmissões ao vivo. Contudo, consideramos que, após retomada do trabalho presencial, atividades on-line devem ser mantidas e intensificadas, com o devido melhoramento dos recursos disponíveis. Acho que é um caminho sem volta”, pondera Fernanda.
A BU também possui o canal do YouTube UFMG Biblioteca. Com quase mil inscritos, lá estão tutoriais do Repositório Institucional da UFMG, bem como vídeos de eventos realizados durante a pandemia.
Esperança em meio ao caos
Assim como na UFMG, bibliotecas de outros lugares do país e do mundo também se reinventaram, criando podcasts, canais de contação de histórias, clubes de leitura e outras atividades on-line de aproximação com os usuários. Temos como exemplo, em Minas Gerais, a Biblioteca Municipal Professora Lêda Rodrigues Silva, da cidade de Andrelândia, que ganhou prêmio nacional com a criação de protótipo de site que facilita a busca pelo acervo, além de promover clubes virtuais de leitura e emprestar livros no sistema “delivery”. Para conhecer mais esse projeto, assista ao vídeo “Desafio Bibliotecas em Casa: Biblioteca Municipal Professora Lêda Rodrigues Silva” no YouTube.
“Algumas bibliotecas, principalmente as comunitárias, passaram a oferecer livros de porta em porta. Outras participaram de grandes movimentos no Brasil de doações de livros para compor cestas básicas entregues em comunidades em vulnerabilidade social. Compunham as cestas, por exemplo, revistinhas em quadrinhos para crianças”, afirma a professora Marília de Paiva.
E, para preservar a memória desse momento pandêmico, foram criados arquivos digitais detalhando como COVID-19 impactou a vida das pessoas. “Relatos criados durante a pandemia podem ajudar gerações futuras a entender melhor como é aprender, trabalhar e viver durante esses tempos de incerteza”, explica o arquivo digital das Bibliotecas da Eastern Washington University. Nele, estão reunidos diários, memórias, escrita criativa e fotografias enviadas pela comunidade de lá. Todo esse conteúdo está disponível no link: https://dc.ewu.edu/covid/
A professora Marília observa que as bibliotecas voltaram a agir como preservadoras da história e instituições cada vez mais entrelaçadas com a comunidade de usuários.
“Se as bibliotecas continuam ligadas às comunidades que atendem e às memórias delas, essas instituições cumprem, de maneira maravilhosa, aquela que sempre foi a principal função delas: estar conectada às pessoas e servi-las”, conclui.
(Carla Pedrosa)