Dica: Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.
Disponível nas bibliotecas: BC; COLTEC; ARQUITETURA; FACE; FAE; FAFICH; LETRAS; IGC e BELAS ARTES.
Localização na estante da FACE: 909.82 B516t 1986
Referência: BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. 360 p.
A solidez dos construtos capitalistas e de nossa visão modernamente idealizada de vida e sucesso confronta com uma sensação de vazio e fluidez aprofundada e aparentemente intransponível. Selecionar um recorte dessa modernidade, de modo que seja representativo, ou ao menos, nos livre um pouco do fardo, é tarefa das mais difíceis. Por outro lado, esse é um anseio da sociedade moderna, que se nutre de atalhos e fragmentos rumo a uma velocidade cada vez mais difundida e “necessária”. Nesse sentido, nada mais emblemático do que perceber, tal como Marx, que “tudo que é sólido desmancha no ar”.
O livro, escrito por Marshall Berman, faz uma reflexão sobre a modernidade, dialogando com textos emblemáticos e seminais que inauguram um olhar “moderno” sobre o mundo. Dessa forma, essa indicação de leitura remete a pelo menos outras três: “O manifesto Comunista” de Marx e Engels; “Fausto” de Goethe; e a obra “Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo”, que é uma coletânea de ensaios do autor. Acrescento por conta própria (ou por mero capricho) a obra “As flores do Mal” de Baudelaire, que possui poemas do alcance de “Albatroz” (apesar de não citado no livro de Berman).
Movido apenas pelo gosto, mas ainda circunscrito numa condição moderna, retorno a um argumento capitalista como motor de desenvolvimento e afirmação individual, posto que, como herdeiro dos valores burgueses, almejo um horizonte de poder e reconhecimento possíveis nessa conformação de sociedade dinâmica e progressista. Por outro lado, é preciso certo compromisso com Mefistófeles, a quem Fausto recorreu em dada circunstância. Não seria então esse ideal de progresso uma tragédia moderna?
Enfim, essas e outras questões são dadas ao leitor dialética e recursivamente ao longo de todo o livro. O mérito em retomar “Fausto” dentro de uma análise da modernidade é simplesmente genial, assim como a contextualização de Baudelaire e a abordagem histórica das mudanças das cidades (fazendo alusões a Dostoievski, por exemplo) em direção à modernidade são igualmente originais e instigantes. Ficamos por fim com um estado de coisas instransponíveis e com certo amargor e desilusão diante dos poderes estabelecidos e das injustiças impostas pela modernidade, mas tudo que é sólido…
Leonardo Vasconcelos Renault
Bibliotecário da Faculdade de Ciências Econômicas