Produções acadêmicas de integrantes do Sistema de Bibliotecas da UFMG são premiadas
"Essas pesquisas retratam temas atuais e trazem importantes contribuições para a sociedade", afirma Izabel Araújo, diretora da Biblioteca Universitária
Bibliotecários são pesquisadores por natureza. Estão sempre em busca de informações seja para melhor atendimento na referência, ou para a catolagação do acervo e desenvolvimento de projetos para repositórios e bases de dados.
Além de facilitar o acesso às pesquisas e materiais bibliográficos da Universidade, também são produtores de conhecimento. E a produção científica desses profissionais tem sido reconhecida em eventos dentro e fora da UFMG.
“Essas conquistas evidenciam o compromisso dos profissionais do Sistema de Bibliotecas da UFMG com a produção de conhecimento de relevância social, que transforma a informação em instrumento de inclusão e inovação. Incentivamos todos os integrantes do Sistema – servidores, funcionários e estagiários – a desenvolver projetos de ensino, pesquisa e extensão que ampliem o impacto das bibliotecas e contribuam para o avanço da Universidade e da sociedade”, destaca Izabel Araújo, diretora da Biblioteca Universitária.
Tesauro da diversidade
Leonardo Borges, coordenador do Repositório Institucional da UFMG, e sua orientadora, professora Maria Aparecida Moura, tiveram o resumo expandido “Proposta de um tesauro crítico situado no domínio LGBTQIAPN+” premiado no 25° Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (Enancib), realizado no início deste mês de novembro na cidade do Rio de Janeiro.
O resumo faz parte da pesquisa de doutorado de Leonardo, cujo objetivo é criar um modelo de vocabulário controlado e estruturado que padronize a descrição de termos utilizados para representar o público LGBTQIAPN+ (acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais, não-binários e demais identidades sexuais e de gênero).
“Embora existam muitos avanços nos estudos de gênero e sexualidade, no contexto brasileiro essas discussões não se materializaram nos esquemas de representação que ainda são insuficientes para organizar e representar esse domínio do conhecimento. Além de invisibilizar uma multiplicidade de identidades, esses instrumentos continuam perpetuando discursos discriminatórios cristalizados em terminologias nosográficas – relacionadas a doenças, desvios e transtornos – já superadas no discurso acadêmico e científico da contemporaneidade”, afirmam Leonardo Borges e Maria Aparecida Moura em texto introdutório do resumo expandido. “Propomos, então, a construção de um modelo baseado na garantia ética e cultural de representação do domínio LGBTQIAPN+”, acrescenta Leonardo em entrevista.
Memoricídio das produções bibliográficas de mulheres
O artigo “Escrita bibliográfica, mulheres e memoricídio: recortes de silêncio”, de autoria da bibliotecária Diná Marques Pereira e do professor Fabrício Silveira, também foi premiado no 25° Enancib.
O trabalho apresenta parte dos resultados de pesquisa doutoral, realizada pela bibliotecária Diná com orientação do professor Fabrício, dedicada à identificação de mulheres escritoras em bibliografias retrospectivas de temática brasiliana. Foi investigado como os processos de produção dessas bibliografias proporcionaram e proporcionam o silenciamento e apagamento de informações sobre mulheres escritoras no universo da cultura letrada.
“Os resultados da pesquisa revelaram que os silêncios se manifestam em diferentes formas de exclusão e de supressão de textos de autoria feminina no âmbito da escrita bibliográfica. Também foi constatada clara dissimetria sexual que orienta os processos de elaboração e ordenamento dessas fontes. Marcadores de exclusão que geram supressões e promovem o memoricídio – apagamento simbólico da memória – das mulheres e de suas produções no cenário mais amplo da cultura escrita”, explica Diná.
A tese“Mulheres escritoras em bibliografias brasilianas: silenciamento e desautorização nas entrelinhas da escrita bibliográfica” também foi laureada com o prêmio de melhor trabalho no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e indicada ao Prêmio CAPES de teses.
Estudo infométrico do feminicídio
A tese “Construção do tema feminicídio nos textos brasileiros de legislação, doutrina e jurisprudência, a partir de um estudo infométrico”, de autoria da bibliotecária Aline Alves de Almeida, recebeu o prêmio UFMG de Teses 2025, como melhor tese do Programa de Pós-graduação em Gestão e Organização do Conhecimento.
Ao mapear a legislação e a jurisprudência que tratam sobre o feminicídio, o estudo constatou uma produção dispersa e limitada. Conforme destacado nos resultados da pesquisa, “a legislação apresentou menor volume, refletindo a característica do processo legislativo; a jurisprudência teve participação relevante, especialmente em Habeas Corpus; e a doutrina, embora contribuindo significativamente para embasar o tema, demonstrou baixa continuidade e especialização entre os autores”.
A tese destaca a contribuição da análise infométrica para identificar lacunas na produção jurídica sobre feminicídio e promover debates interdisciplinares. E “os resultados reforçam a necessidade de maior articulação acadêmica e institucional para consolidar o tema no campo jurídico e fomentar políticas públicas mais eficazes no enfrentamento à violência de gênero”.
Efetiva utilização dos dados abertos do governo federal
A dissertação ‘Metadados para representação de dados abertos: uma proposta para o Portal Brasileiro de Dados Abertos’, da bibliotecária Danielle Teixeira de Oliveira, da Faculdade de Educação, e sua orientadora, Patrícia Nascimento Silva, conquistou o primeiro lugar na categoria dissertação de mestrado no prêmio IBICT – ISKO BR 2025 de teses e dissertações, promovido pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e pela International Society for Knowledge Organization (ISKO).
Ao constatar uma preocupação unívoca com os desafios decorrentes da falta de padronização e heterogeneidade dos dados abertos, a pesquisadora, a partir da investigação de boas práticas, propôs uma estrutura de representação descritiva para os dados abertos do governo federal brasileiro no Portal Brasileiro de Dados Abertos, com a utilização de metadados. Com esse modelo, buscou promover maior a acessibilidade para a efetiva reutilização dos dados pela sociedade, além de destacar o papel essencial do profissional da informação no desenvolvimento das políticas de dados abertos.
Segundo as autoras, e conforme destacado na página 174 da tese, “uma conclusão evidente é que não basta disponibilizar os dados por força da lei, é necessário que esses dados estejam acessíveis de forma organizada e compreensível para o usuário. Para isso, é muito proveitoso que o profissional da informação esteja envolvido no desenvolvimento das políticas de dados abertos”.
Patrimônio cultural como instrumento de educação e memória
O projeto “Memória, História Local e Patrimônio Cultural de Grão Mogol: desenvolvimento de produtos e ações educativas patrimoniais na cidade” – do qual Isabela Soares, estagiária do Portal de Periódicos da UFMG, faz parte – foi um dos agraciadas com o prêmio de destaque na 28º Semana do Conhecimento da UFMG. Dos mais de 3 mil trabalhos apresentados durante o evento, setenta e sete receberam a premiação.
Coordenado pela professora Ivana Denise Parrela, da Escola de Ciência da Informação, o projeto atua em Grão Mogol, município do norte de Minas Gerais, com o objetivo de identificar, valorizar e divulgar a história e o patrimônio cultural da cidade. As ações incluem oficinas, visitas, atividades formativas e produção de materiais educativos e culturais, com a participação de escolas, instituições locais e moradores.
A iniciativa visa, ainda, contribuir para a criação de um museu da cidade, reunindo acervos, memórias e objetos históricos, fortalecendo o registro e a preservação do patrimônio cultural de Grão Mogol. A proposta integra ensino, pesquisa e extensão, envolvendo estudantes de diferentes cursos e níveis, incluindo a pós-graduação. O foco é aproximar a universidade da comunidade e usar o patrimônio cultural como instrumento de educação e memória.

