Papel das bibliotecas no desenvolvimento de competência informacional em IA foi um dos destaques da nona edição da Semana do Bibliotecário
Evento também refletiu sobre os desafios e inovações trazidos pela inteligência artificial no contexto do ensino e pesquisa

“Por que não criar disciplinas de cultura digital e uso assertivo do celular? Falta competência informacional para lidar com essa nova realidade”, ressaltou a professora da ECI, Ana Paula Meneses, em palestra. Foto: Carla Pedrosa / Biblioteca Universitária UFMG
Palestras sobre inovações e desafios trazidos pela inteligência artificial (IA) para o ensino e pesquisa e o papel das bibliotecas nesse novo contexto foram alguns dos destaques da nona edição da Semana do Bibliotecário, realizada de 22 a 24 de abril na Escola de Ciência da Informação (ECI).
Na quarta-feira (23), Ana Paula Meneses, professora da ECI, falou sobre a importância de se pensar todas as dimensões que abarcam o uso da IA. Para além da técnica, ela alerta sobre as questões éticas, estéticas, políticas que perpassam a utilização das tecnologias emergentes e a importância de se investir em competência informacional para lidar com essas transformações.
“Recentemente foi proibido o uso de celular nas escolas por uma série de prejuízos para o aprendizado. Será que o próximo passo será proibir o uso da inteligência artificial? Ao invés de proibir, será que não seria mais eficaz ensinar professores e alunos a dominar e fazer bom uso dessa tecnologia? Por que não criar disciplinas de cultura digital e uso assertivo do celular? Falta competência informacional para lidar com essa nova realidade”, ponderou Ana Paula durante a palestra.
Ao apresentar um relatório de tendências da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA), a professora destacou alguns pontos, como: as mudanças nas práticas de conhecimento e o contínuo impacto da desinformação nesse novo contexto, as constantes transformações nas formas de criar, compartilhar e usar as informações , a importância da literacia midiática e informacional no combate às fakes news, o agravamento da exclusão digital e a necessidade de se pensar em estruturas de informação cultural inclusivas, que gerem conexões comunitárias, entre outros.
Em meio a todos esses aspectos, a professora deixou algumas reflexões, sobretudo para os profissionais da ciência da informação: “Qual é o papel das bibliotecas na identificação e enfrentamento das lacunas de competência informacional? O que as bibliotecas precisam fazer para se tornarem catalisadoras da vida comunitária e ajudarem no enfrentamento da exclusão digital, da pobreza em informação e da vulnerabilidade informacional? Como podem ser espaços agregadores?”
Sugeriu, para começar a se pensar nessas questões, a leitura de alguns documentos como os ‘Currículos de IA para a educação básica’, elaborado pela Unesco, ‘Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil’, da Academia Brasileira de Ciências, o ‘Currículo de Cultura e Cidadania Digital para o Ensino Fundamental’, da Brasscom.
Também mostrou vários cursos gratuitos on-line sobre IA oferecidos pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) que podem ser feitos pelos servidores públicos para se inteirarem e aprenderem melhores formas de atuar nesse novo contexto.
Desafios e aplicações da IA em bibliotecas

“Em 1950, o matemático e cientista da computação Alan Turing propôs um teste que foi essencial para reforçar o conceito de que uma máquina seria capaz de imitar o comportamento humano, por isso é considerado um dos precursores da IA”, explicou Raquel Torres em palestra. Foto: Carla Pedrosa / Biblioteca Universitária UFMG
Na última quinta-feira (24), Raquel Torres, mestranda da ECI e bibliotecária conselheira do CRB-6, destacou como as bibliotecas podem utilizar os recursos da inteligência artificial para otimizar serviços e processos e o papel dessas unidades de informação no desenvolvimento de competências informacionais para lidar com as tecnologias emergentes.
Os sistemas de recomendação da IA, por exemplo, podem ser utilizados para sugerir conteúdos personalizados com base nas preferências e comportamentos do usuário. O desafio, nesse caso, é se preservar a privacidade dos dados coletados pelos algoritmos de recomendação.
Outra possibilidade de uso da inteligência artificial nas bibliotecas são os chatbots e assistentes virtuais para dar suporte instantâneo e personalizado aos usuários, o que exigiria, em contrapartida, manutenção e atualização constante das informações enviadas para gerar os comandos e respostas.
Na catalogação, as tecnologias emergentes podem gerenciar e organizar os metadados de maneira mais ágil e eficiente. Para tanto, seria necessário, primeiro, investimento inicial em ferramentas específicas de IA para essa função e também em treinamento para os bibliotecários.
Entre outras aplicações, os aplicativos de IA também podem auxiliar na criação de conteúdos mais interativos e acessíveis, gerando legendas e áudios, por exemplo.
Raquel Torres também destacou alguns papeis que podem ser desempenhados pelas bibliotecas no desenvolvimento de competências informacionais em inteligência artificial. Citou a curadoria digital no combate à desinformação, por meio da filtragem de fontes confiáveis e da mediação entre IA e os usuários, ensinando, por exemplo, como utilizar o CHAT GPT de forma ética e como criar prompts – perguntas, comandos – assertivos.
Na alfabetização informacional e digital, Raquel apontou que as bibliotecas podem dar orientação sobre as ferramentas de inteligência artificial, workshops sobre como validar informações geradas por IA nas pesquisas acadêmicas, além de promoverem debates sobre ética e privacidade de dados.
Ao final, a palestrante disponibilizou uma lista com sugestões de aplicativos de inteligência artificial e suas funcionalidades.
(Carla Pedrosa / Biblioteca Universitária UFMG)

