
Márcio Alves
Quando nasceu, a princesa da IlhaAnã foi chamada de João.Achavam que ela era um menino por causa das características físicas distintas das mulheres. Aos sete anos, fez um pedido de aniversário aos pais, deixando-os atônitos: “De presente, quero que me chamem de Joana para sempre. Eu sou uma menina!”. Essa é a história de “Joana Princesa”, livro infanto-juvenil da psicóloga Janaína Leslão.
Cansada dos contos de fadas que terminam com a princesa e o príncipe felizes para sempre, Janaína decidiu questionar, na literatura, padrões normativos de gênero e sexualidade. A ideia veio depois de a escritora perceber que não havia material para crianças sobre o assunto. “Cada um no seu espaço e à sua maneira pode contribuir para uma sociedade menos intolerante. É óbvio que não vou mudar o mundo com os livros que escrevo, mas espero que façam sentido na vida de algumas pessoas”, conclui a autora em matéria publicada este ano na Rede Brasil Atual.
E as contribuições da literatura em prol da diversidade vão além. No livro “Viagem Solitária – memórias de um transexual 30 anos depois”, João Nery, ao relatar sua experiência, ajuda a alavancar discussões de temas como a despatologização da transexualidade e a mudança do nome civil. “Nunca imaginei que ao lançar esse livro minha vida mudaria radicalmente. Não mais como um freak de Joana para João, mas como um elemento visibilizador
de um segmento praticamente desconhecido – os transhomens”, revela João em texto publicado no ano de 2014 na plataforma Museu da Pessoa.
Apesar dos avanços, ainda há pouco conteúdo sobre essa temática no Brasil. João Nery aponta que o problema começa ainda na educação infantil. “Há um despreparo no trato da população transgênera, começando pela família e escola, que não têm projetos político-pedagógicos que contemplem a diversidade sexual. Não só a criança, como também o adolescente, precisa de orientação e apoio emocional para enfrentar essas questões”, afirma.
(Alex Vilaça)

